Podia ser só
amizade, paixão, carinho, admiração, respeito, ternura, tesão. Com tantos
sentimentos arrumados cuidadosamente na prateleira de cima, tinha de ser justo
amor, meu Deus? Porque
quando fecho os olhos, é você quem eu vejo. Aos lados, em cima, embaixo, por
fora e por dentro de mim. Dilacerando felicidades de mentira, desconstruindo
tudo o que planejei, abrindo todas as janelas para um mundo deserto. É você
quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias, me tira do sério, faz
ares de palhaço, pinta segredos, ilumina o corredor por onde passo todos os
dias. É agora que quero dividir maçãs, achar o fim do arco-íris, pisar
sobre estrelas e acordar serena. É para já que preciso contar as
descobertas, alisar seu peito, preparar uma massa, sentir seus cílios.“Claro,
o dia de amanhã cuidará do dia de amanhã e tudo chegará no tempo exato. Mas
e o dia de hoje?” Não quero saber de medo, paciência, tempo que vai chegar. Não
negue, apareça. Seja forte. Porque é preciso coragem para se arriscar num
futuro incerto. Não posso esperar. Tenho tudo pronto dentro de mim e
uma alma que só sabe viver presentes. Sem esperas, sem amarras, sem
receios, sem cobertas, sem sentido, sem passados. É preciso que você venha
nesse exato momento. Abandone os antes. Chame do que quiser. Mas venha. Quero
dividir meus erros, loucuras, beijos, chocolates… Apague minhas interrogações. Por
que estamos tão perto e tão longe? (…) Não nego. Tenho um grande medo
de ser sozinha. Não sou pedaço. Mas não me basto.
Caio Fernando Loureiro de
Abreu
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