Amar não é pra qualquer um. Amar exige tempo, exige abrir
mão, existe dedicação. E nem sempre se quer doar tempo, abrir mão e se dedicar
a outra pessoa. Há pessoas que simplesmente não sabem amar – ou não querem
amar. Acham amor um fardo muito grande, pesado, sofrido e arriscado
demais.
Direito delas.
Daqueles que não amam, há dois tipos. O primeiro deles é
aquele que já amou antes. Geralmente, esses são do tipo que se jogaram de
cabeça, deram mais do que deveriam dar, colocaram o outro num pedestal. E,
fatalmente, se decepcionaram. Porque o amor tem dessas coisas – é preciso estar
preparado pra cair. Cair de cara. É como o artista que, depois do auge, tem que
estar preparado para despencar. Poucos têm o privilégio de se manterem no topo
durante a vida toda – o universo, geralmente não permite. Há que haver espaço
para os novos, para os iniciantes, para os cheios de motivação. E aí, é preciso
contentar com os 5 minutos de fama. Ou morrer de dor. Esse tipo dos não amantes
aos quais me referia, provavelmente morreram de dor. Amaram demais e não
estavam prontos para a queda, não aguentaram sentir o prazer dos cinco minutos
de amor e ter que abdicar disso. E, decidiram então, não amar mais.
Há também os que já sacaram que essa coisa de amor não
era para o bico deles. Viram, observaram, refletiram. E decidiram fazer outra coisa
da vida que não fosse amar. Respeitável. Só que, não querer amar, não implica
em não se envolver em relações pessoais. Relações, digo, no sentido original da
palavra. Porque, nesse sentido, a partir do momento em que você começa uma
conversa com alguém, está se relacionando com a pessoa. Os não amantes dessa
categoria, geralmente gostam de se relacionar, mas não querem amar. Param
sempre antes desse ponto. E machucam – mesmo que sem intenção. Porque, acredito
eu, que a maioria deles não tenha intenção de sair por aí magoando pessoas, mas
é que é difícil encontrar pessoas do mesmo time, que querem apenas viver o lado
bom dos relacionamentos que vem antes do amor.
Difícil recriminar os que fazem essa escolha. Porque,
como disse antes, o amor pesa, machuca, exige, dilacera. E tem um lado bom que
da pra viver sem necessariamente amar. Boa companhia, é uma delas – como é bom
ter alguém pra acompanhar os momentos bons da vida, afinal, as experiências,
quando vividas sozinhas, perdem um pouco da graça. A graça maior está em
compartilhar. E, pra isso, não é preciso amor. Sexo é outra coisa. Por que, por
mais que confundam, sexo bom não é aquele feito necessariamente com amor – sexo
bom, requer intimidade. Até pra dormir de conchinha, não precisa amar. Basta
ter um outro corpo, aconchegante, fazendo o encaixe e trocando calor. E tem
pessoas que, simplesmente, fizeram essa escolha. Recriminá-los, seria como
recriminar aqueles que escolheram não ter filhos ou continuar morando com os
pais depois de velho. É uma escolha pessoal.
Se as pessoas não recriminassem tanto os que não querem
amar, poderiam obter deles uma relação proveitosa e até feliz, mesmo sem amor.
Mas, como não se pode falar que não se quer amar, os que fizeram essa
escolha geralmente não se abrem, vão indo nos relacionamentos até que, quando
percebem que o amor vem surgindo, somem, desaparecem, inventam qualquer
desculpa do tipo estou-indo-pro-Japão-a-trabalho. E colecionam filas de
corações quebrados, de lamentações, de questionamentos do tipo o-que-eu-fiz-de-errado.
Na verdade, você não fez nada de errado. Apenas, descobriu tarde que as
intenções de vocês não batiam. É como o cara que é louco por filhos, mas que se
envolve com uma mulher que quer ter 10 cachorros invés de pupilos correndo pela
casa. Nada de errado, apenas conflito de interesses.
Mas como na vida o livre arbítrio é sempre defendido –
mesmo que nem sempre, respeitado – me reservo o direito de dizer que acho que a
vida vale muito mais a pena quando existe amor. Amor daqueles quentinhos, de aconchego,
de conforto. Sou uma viciada em amor. Amo pessoas que nem conheço. Amo
cachorros quando olho dentro daqueles olhinhos. Amo plantas, quando relembro o
milagre que elas são. Amo, porque sou viciada nos efeitos que só um amor,
daqueles bem profundos, propiciam. Já cai, chorei, morri de dor por amores.
Mas, no final, sempre achei que o sofrimento valeu a pena. Obviamente, não no
calor da dor – naqueles dias em que se acha que tudo está acabado e quando o
próximo sorriso parece ser a coisa mais utópica do mundo. Mas ele sempre vem.
E, junto com o retorno do sorriso, vem sempre a vontade de amar de novo –
porque, quem sente uma vez, dificilmente consegue largar o vício.
Fonte: Casal Sem Vergonha
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