"Devagarinho, a gente começa a
sentir que algo precisa ser feito.
Embora ainda não faça. Embora ainda insista em fazer ouvidos de mercador para a
própria consciência. Embora às vezes ainda estresse toda a musculatura da alma,
lesione a vida, enrijeça o riso, embace o brilho dos olhos, envenene os rios
por onde corre o amor. Por medo da mudança, quando não dá mais para carregar
tanto peso, a gente aprende a empurrá-lo, desaprendendo um pouco mais o
prazer. Quase nem consegue respirar de tanto esforço, mas aguenta ou pelo menos
faz de conta, algumas vezes até com estranho orgulho. Até que chega a hora em
que a resistência é vencida. A gente aceita encarar o casulo. A gente deixa a
natureza tecer outra história. A gente quer tecer junto.
A gente permite que a borboleta aconteça."
Ana Jácomo
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