Foi por acaso... Eu estava ali sozinha,
sentada à janela do trem quase vazio, totalmente concentrada na leitura de um
livro... E então você entrou... Parecia cansado; tirou a mochila do ombro, e
sentou no primeiro lugar vazio que encontrou – assim, por acaso –, de frente
para mim. Acho que eu mal tinha notado sua presença, até ouvir você suspirar,
olhando distraidamente para a capa do meu livro, e dizer, meio sonolento, que o
casal ficaria junto no final. Eu ri... Apesar de o título ser sugestivo, eu não
estava lendo um romance.
Mas então, por acaso também, quando eu
estava prestes a dizer alguma coisa sobre não ser educado revelar o final a uma
pessoa que ainda está lendo o livro, o trem deu um solavanco, que me projetou
para frente, e fez meu livro cair no seu colo. Você o confiscou, sorrindo, e só
me devolveu quando chegamos à minha parada, mas não sem antes colocar dentro
dele um cartão com seu telefone.
Eu nunca pretendi ligar, afinal, você
era um cara estranho, que praticamente sequestrou meu livro no trem, insistindo
em conversar, e ainda fingiu conhecer o final de uma história que estou certa
de que você nunca tinha ouvido falar...
Mas então, por acaso, outra vez, nós nos
reencontramos, agora num vagão lotado, e enquanto a multidão empurrava o meu
corpo contra o seu, você me perguntava se faltava muito para eu terminar o
livro. Achei que você era maluco, e não sei por que razão eu continuava dando
atenção ao que você dizia, mas o seu jeito doce e sincero de me olhar, lentamente
foi colocando abaixo todas as minhas defesas.
Assim, por acaso, lá estava eu,
aceitando tomar um café com você; e depois um filme; e depois um jantar; e
quando menos esperei, o café com você, se tornou café da manhã; a janela por
onde eu olhava era a do nosso quarto; e não havia mais lugar vazio ao meu lado
no trem. Porque eu descobri no seu jeito completamente atrapalhado de se
aproximar, as primeiras frases do enredo de um romance, que só o acaso, mesmo,
poderia criar.
Porque, quem mais, senão o acaso,
poderia colocar no meu caminho (duas vezes!) um cara, que à primeira vista, nem
fazia o meu tipo, mas que, por acaso, era exatamente o que eu precisava?
E
então, de repente, da garota que estava lendo sozinha no vagão de trem, eu me
tornei a metade de nós;
parte de uma história que estava sendo escrita pelo acaso. E o acaso, talvez,
seja na verdade um pseudônimo que o destino usa quando quer permanecer anônimo,
e realizar o inimaginável.
E assim, um dia, por acaso, eu percebi
que você tinha razão desde o início: eu não precisaria ler o livro até o final,
pois eu tinha certeza de que o casal nunca mais iria se separar.
Sobre
a autora: Talita Vasconcelos é uma escritora nacional.
Paulistana, 20 e poucos anos, apaixonada por livros, cinema, música boa, e
escrever. Autora de três livros publicados em e-book: a antologia “A Morte Não
é o Fim”, e o romance “Alma de Rosas”, e um romance sobrenatural, "As
Noivas de Robert Griplen".
Leia
também: Lágrimas de Sangue e Sentimentos Guardados no Armário.
0 comentários:
Postar um comentário