Ilustração: Atratis Digital
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Não
gosto de falar que eu tenho ceratocone, talvez por isso as pessoas ao meu
redor, às vezes, esquecem que eu tenho uma péssima visão e quase nenhuma
qualidade de vida. Ter ceratocone me afeta mais do que eu gostaria de admitir. —
Sabe quando temos um problema e evitamos falar sobre com intuito de que ele
desapareça como num passe de mágica? Essa sou eu quando o assunto é minha
péssima visão. Algumas pessoas não entendem quando eu passo por elas na rua e
não falo, assim como, também não entendem por qual razão eu dificilmente tiro meus
óculos escuros (aliás, agora são óculos marrons!). Uso os óculos como escudo,
morro de medo de cair um cisco no meu olho ou piscar errado e “puf!", lá
se foi minhas lentes de contato.
Durante,
praticamente, toda a minha adolescência eu usei óculos, porém, o grau sempre
foi baixo e usá-los não era um incômodo para mim. Acho que durante a
adolescência o uso de óculos reforçava o estereótipo de “pessoas inteligentes”,
existia toda uma expectativa entorno das e dos jovens que usavam óculos, creio
que atualmente isso tenha caído por terra. Vejam qual era o meu grau em 2009:
Usei
óculos durante todo o ensino médio, mas eles não estavam resolvendo a minha
miopia. Em 2011 percebi que os óculos não adiantavam muito, pois, além de não melhorar
minha visão também não diminuía as minhas fortes dores de cabeça. Através do
SUS fui para alguns oftalmologistas especialistas em retina, mas sempre voltava
com prescrição para óculos e nenhuma solução efetiva.
Em
2013, durante uma brincadeira entre colegas de faculdade acabaram colocando a
mão no meu olho direito, tapando completamente a minha visão direita, e foi
nesse momento que eu percebi que tinha algo errado com o meu olho esquerdo.
Percebi que via tudo nublado. Retirei a mão que estava no meu olho direito e
decidi refazer o processo: Tapei meu olho direito e, novamente, vi tudo nublado
com o olho esquerdo, tapei o olho esquerdo e vi normal com o olho direito.
Decidi ir a um oftalmologista. E aí começou a minha caçada em busca de
descobrir o que eu tinha.
Minha
primeira consulta, em busca de respostas, foi uma consulta particular na OCULAR
Clínica de Olhos com um especialista em retina, Dr.
Efrígenes Ferreira, que resultou no seguinte encaminhamento:
Sinceramente,
a primeira vez que ouvi a palavra CE-RA-TO-CO-NE foi como se eu estivesse
ouvindo um xingamento, pensei: “— Que diabos de doença é essa que eu nunca
ouvir falar?” Mal sabia eu, naquele momento, que iria me tornar tão íntima da
palavra e dessa doença. Dr. Efrígenes Ferreira também solicitou óculos,
mas, acredito que ignorei tanto a solicitação para comprar novos óculos quanto
o encaminhamento para um especialista em córnea. Lembro-me que naquela época,
além de estar bastante assustada, a minha condição financeira me deixou
paralisada. Eu não tinha a menor condição financeira e pagar mais uma consulta
particular, muito menos novos óculos.
Enfim,
demorei quase dois anos para procurar entender o que eu tinha e só procurei
atendimento porque meu olho direito (o olho bom) já não estava mais enxergando
tão bem quanto antes e terminar a faculdade começou a parecer uma missão impossível,
( — Como cursar licenciatura em história sem
conseguir fazer a leitura dos textos?).
Somente em 2015 tive condições de retomar minha busca por um diagnóstico. Com isso, no dia 05 de outubro de 2015, iniciei meu acompanhamento com um especialista em córnea, Dr. Mauro Dias, confesso que a descoberta de que eu teria que usar lentes de contato extra rígidas gás permeável não me agradou muito não, aliás, posso afirmar com toda convicção que esse foi um dos piores momentos da minha vida e a aflição veio logo em seguida ao saber que, na época, um par dessas lentes custava 2.500 reais. “— Como uma bolsista da graduação, cuja bolsa era de 400 reais, iria conseguir sobreviver e ao mesmo tempo comprar lentes de contato tão caras?” Eis que surge a ideia de criar uma vaquinha online.
Uma
visão mais clara para Andrielle Antonia
Sou
imensamente grata pela visibilidade que essa vaquinha trouxe ao meu problema de
saúde e apesar de no site oficial da vakinha ter alcançado apenas 16% do valor
estimado (Só consegui arrecadar 400 reais e desse valor quase 100 reais ficou
para o site), no entanto, a repercussão da vaquinha fez com que professores,
amigos e familiares fizessem doações diretamente em minha conta bancária e com
isso consegui arrecadar o dinheiro e comprar meu primeiro par de lentes. Sou
grata, em especial, a uma docente da graduação que junto com a sua família fez
uma doação no valor de dois mil e quinhentos reais.
Em
2017, precisei trocar as lentes de contatos adquiridas com tanto esforço em 2016.
A doença estava progredindo e, para piorar, com a progressão as lentes acabaram
folgando, caindo do meu olho e quebrando. Para comprar um novo par de lentes Painho
fez um empréstimo bancário e foi assim que eu conseguir comprar meu segundo par
de lentes.
As
dores de cabeça eram tão intensas que inúmeras vezes fiquei desnorteada, sair
de casa era horrível, muita dor nos olhos, a claridade me incomodava e eu tinha
medo de ser atropelada na rua. E foi justamente em meio a esse processo
insuportável que a Clínica Sensorial entrou em contato comigo me convidado para
fazer um teste de adaptação de uma nova lente de contato desenvolvida especialmente
para pacientes cuja a doença já havia avançado (como é o caso do meu olho
esquerdo). Testei e me apaixonei pela Lente de Contato Escleral.
A
qualidade da minha visão esquerda não melhorou 100%, na verdade, só consigo
enxergar 40% com ela, mas, as dores de cabeça e o conforto proporcionado por
aquela lente me encheu de esperanças. Finalmente comecei a imaginar que dias
melhores estavam por vir, porém, novamente, eu não tinha condições de pagar. No
dia 20 de novembro de 2018, fui surpreendida por Dr. Mauro Dias que
decidiu me presentear com a Lente Escleral para o olho esquerdo, já que a lente
do olho direito, naquele momento, estava boa. Pense numa pessoa que ficou
imensamente feliz? Eu mesma!
No
dia 17 de agosto de 2019, minha lente escleral caiu e quebrou. Pense numa
tristeza? Pois é, de lá para cá, venho tentando conseguir juntar dinheiro para
comprar outra e trocar a lente do olho direito (que já está próxima da data de
vencimento), o problema é que eu não consigo um emprego e sem renda a
perspectiva de conseguir lentes novas não é nada boa.
E
como se já não bastasse o desemprego e a necessidade de comprar um novo par de
lentes de contato no valor de 3 mil reais (Rose K2 para o olho direito e Lente Escleral
para o olho esquerdo), tenho que lidar com o fato de que minha visão, mesmo com
lente, não está 100% boa. O Ceratocone é uma doença crônica, cuja a tendência
nos decorrer dos anos é se agravar. Por esse motivo, em 19 de abril de 2018 o meu
oftalmologista fez a solicitação de inúmeros exames dos quais eu não tive
condições de realizar por falta de dinheiro. Dá uma olhada no relatório:
Já
fiz todas as pesquisas possíveis sobre os tratamentos supracitados, no entanto,
apesar do sonho de fazer o mapeamento da córnea para saber se estou apta para
realizar quaisquer desses procedimentos não tenho como fazê-los no momento.
Durante o mês de agosto escrevi um texto/desabafo sobre como eu me sentia e
como a perda da minha visão afetava diretamente minha vontade de viver e a
minha autoestima. Segue um trechinho do desabafo:
Esse
desabafo circulou entre algumas pessoas da minha rede de amizade até que chegou
ao deputado federal Jorge Solla, (médico sanitarista e político
brasileiro, ex-secretário de saúde do município de Vitória da Conquista e do
estado da Bahia e, atualmente, Deputado Federal por este estado, filiado ao PT)
que se sensibilizou com o meu desabafo conseguindo para mim, no dia 02 de
setembro de 2019, uma consulta no Instituto Hcoe – Hospital de Olhos em
Feira de Santana, pelo SUS.
O
Hcoe é um “hospital escola” e eu me senti em um episódio de Grey’s Anatomy com
tantos olhos atentos a minha situação. O objetivo da consulta era avaliar a
necessidade de um transplante de córnea ou algum outro procedimento cirúrgico.
A consulta contou com um especialista e aproximadamente dez (residentes?)
oftalmologistas. Pelo que pude compreender, o Hcoe é um hospital particular que
possui uma ala de atendimento pelo SUS. Os médicos presentes na minha consulta
sugeriram possíveis tratamentos visando o que melhor surtiria efeito para o meu
caso. Juro que realmente parecia um episódio de Grey's Anatomy e isso foi
beeeeeeeem legal. rs
Por
fim, chegaram à conclusão que minha córnea tá limpa, saudável, apesar da
deformidade, e sem opacidade (isso é bom). Sendo, nesse momento desnecessário
um transplante de córnea (Eu ouvi um amém?). Todavia, o olho esquerdo, que é o
que eu não enxergo nada (sem lentes de contato), irá passar por um processo de
avaliação de lentes de contato escleral e se não obtiver uma resposta positiva,
essa mesma equipe irá pensar em estratégias para melhorar minha visão.
Quanto
aos encaminhamentos:
Drª
Larissa Balbi solicitou uma avaliação para adaptação de lentes de contato
escleral. Ano passado fiz essa avaliação na clínica Sensorial aqui em Santo
Antônio de Jesus. Perguntei se a avaliação da Sensorial serviria e ela disse
que sim, desde de que esteja atualizada. Para isso, terei que realizar uma
consulta no valor de 200 reais, com a finalidade de comprar a lente escleral
cujo o valor individual é 1.350 reais e o valor do par é 2.700 reais.
Fiz
a avaliação solicitada pela Drª Larissa Balbi após conseguir, através de
correções de artigos acadêmicos, o valor da consulta (200 reais) e o valor da
ceratoscopia computadorizada (150 reais). Durante esse mês de novembro pretendo
retornar a Feira de Santana para marcar uma revisão. Estou animada com o fato
de não precisar fazer um transplante de córnea, porém, o que me deixaria
radiante seria realizar o mapeamento da córnea e ver a possibilidade de colocar
o anel intra-estromal e/ou crosslink. As lentes de contato, para mim, são como
uma prótese, uma prótese que limita minha qualidade de vida, que me impede de
fazer inúmeras coisas (inclusive entrar no mar ou piscina), gostaria de não ter
tanto medo de fazer coisas simples e acabar perdendo minhas lentes ou
comprometendo a qualidade da minha visão, ainda assim, reconheço que foram as
lentes de contato que possibilitaram minha colação de grau, sem elas eu não sei
nem o que seria de mim.
Enfim,
no momento, eu gostaria de ter um emprego para poder comprar um novo par de
lentes de contato, assim como, ânimo para acreditar que as coisas irão melhorar
e uma boa visão para seguir fazendo o que eu amo fazer: ESCREVIVER!
Nossa, me sentir você agora, passo quase pelo mesmo, no meu caso uso óculos ainda, pois não tenho dinheiro para comprar um par de lentes e não estou apta para colocar o anel. Fiz todos os exames pelo sus, e é horrível não consegui enxergar coisas simples direito como a tv.
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