Você nem chegou ainda e
já carrega tantas expectativas, metas e esperança de dias melhores... Parece
injusto contigo, mas a vida não é lá muito justa, né? O triste é que 2020 se
despede carregado de más vibrações e maldizeres como se a culpa de tudo de ruim
que nos acometeu ao longo desse ano fosse realmente culpa do ano.
É impossível termos
controle sobre todos os aspectos da nossa vida, em especial, sobre a nossa
morte. E foram tantas as mortes que gostaríamos que não tivesse acontecido esse
ano. Tantas perdas no mundo inteiro... A minha família também precisou lidar
com a perda de um ente querido e isso foi mais difícil do que eu poderia
imaginar, na verdade, ainda estamos lidando com o nosso próprio luto, da nossa
própria maneira (sem abraços acolhedores ou ombros para chorar por conta da
pandemia).
Eu poderia listar tudo
de ruim que aconteceu em 2020 e te implorar que o seu ano seja diferente, seja
melhor, mais amável e Mais Íntimo. Mas, não farei isso! Não gostaria que
2020 fosse cancelado ou apagado de nossas memórias, pois apesar de todas as
perdas e dificuldades sinto que esse ano também nos reservou inúmeras surpresas
boas. Aprendemos a valorizar o contato presencial, — em um mundo onde o virtual
parecia competir com o mundo físico —, aprendemos a nos cuidar em prol de
cuidar de outras pessoas, aprendemos a ter mais empatia e a ser solidários. Nem
todas as boas ações foram filmadas e divulgadas, mas inúmeras coisas boas
aconteceram esse ano também.
Eu imaginei que o meu
2020 seria completamente diferente.
Primeiro, imaginei que
estaria empregada, mas para a minha surpresa, eu que apareci em vários veículos
de comunicação nacional com a Poética do Desemprego, agradeci por não precisar
sair de casa, colocando Mainha e Vovó em risco, para trabalhar. Agradeci também
por não ter que, de uma hora para outra, me adaptar ao ensino remoto.
Estranhamente, eu agradeci por estar desempregada (— que confuso, né?).
Segundo, imaginei que o
meu nome já estaria na lista de transplante de Córnea do SUS. Quando descobri
que preciso de um transplante (talvez dois) demorei bastante para compreender o
quanto isso irá alterar a minha vida (doze meses depois e ainda estou
processando a informação e aprendendo o quanto mudanças de hábitos físicos e
alimentares são difíceis). Como moro em SAJ City e faço tratamento em Feira de
Santana, a pandemia também comprometeu o meu trânsito, as idas e vindas
precisaram cessar em prol de não comprometer a minha saúde e a da minha
família, e isso comprometeu o meu progresso com o Banco de Olhos.
Nesse intervalo de
meses, dei início aos exames pré-operatórios e novamente fui surpreendida com o
diagnóstico da Talassemia, (eu jurava que meu sangue estava me atacando, até
disse isso a minha médica e parece que ele estava mesmo, rs), e com a Talassemia
surge a necessidade de iniciar um acompanhamento com Hematologista para saber
mais sobre a doença e sobre o quão isso poderá afetar meu transplante.
Mas, diferente de
quando fui diagnosticada com Ceratocone, (lá em 2013), eu não me senti desesperada
ou sequer triste. Na verdade, fiquei bastante feliz por ter ouvido o meu corpo
(nosso corpo fala conosco o tempo inteiro, sabia?), por ter acreditado nele e
por ter compartilhado com a médica a minha teoria de que o meu sangue estava me
atacando, mesmo quando hemogramas anteriores não mostravam nada.
Esse ano foi
desafiador, não irei mentir. Mas sou imensamente grata por tudo que vivi, pela
quantidade de coisas que aprendi, pelos projetos que desenvolvi, em especial o
Projeto Geniandria, pelos/as clientes que conquistei, por todas as pessoas que
colaboraram com a minha vakinha online e com a minha vakinha interna (que
possibilitaram a realização da compra do meu novo par de lentes de contato que
custaram 3 mil reais e a realização de alguns exames pré-operatórios).
Sou imensamente grata
pelas pessoas que se preocupam comigo diariamente, pela minha rede de apoio que
me acolhem e se mobilizam em prol de buscar soluções. Sou imensamente grata por
vocês que colam junto e que em nenhum momento, ao longo desse ano que nos
manteve em isolamento social, permitiram que eu me sentisse sozinha nessa luta
contra um sistema de saúde que, apesar de ter profissionais maravilhosas, ainda
é muito lento em vários aspectos e por conta dessa lentidão acaba colocando as
nossas vidas em risco.
Para 2021, não farei
minha famosa wishlist com 12 metas a serem realizadas ao longo do ano. Sem
objetivos de desejo irreais ou mirabolantes nesse novo ano. Na verdade, o meu
único desejo é permanecer viva junto as pessoas que eu amo e que fazem parte da
minha vida.
FELIZ ANO
NOVO!
Seja bem-vinde 2021.
Santo Antônio de Jesus-BA, 31 de dezembro de 2020.
Com amor, Andrielle Antonia.
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