Criado no dia 10 de setembro de 2011, o Mais
Íntimo tinha o intuito de alimentar o amor que eu sentia por um cara que não
estava nem ai para mim. Por isso, comecei a escrever sobre “nós”. Com o
decorrer do tempo percebi que a minha escrita era reflexo do meu medo de
perdê-lo definitivamente, sendo assim, através de desabafos, diariamente
reforçava o quão extenso era o meu sentimento.
Compreendo que naquela época eu era uma
adolescente romântica, que acreditava em amor eterno e homem perfeito. Com
apenas 17 anos ser uma garota que luta pela perpetuação de um relacionamento
platônico e abusivo por não acreditar ser capaz de encontrar outro amor é
completamente comum, apesar de ser também doloroso. Os meus textos refletem
essa adolescente insegura que coloca o parceiro em um pedestal e assume toda a
culpa perante a disparidade existente na relação. Denomino essa sequência de
fatores e sentimentos como a 1ª fase do Mais Íntimo, cuja duração foi de 2011
até 2013.
Vivo tudo no corpo. Às vezes me perguntam o que aconteceria comigo se não existisse palavra escrita. Eu respondo: teria me assassinado, consciente ou não de que estava me matando. É uma resposta dramática, e eu sou dramática. O que tento dizer é que, se não pudesse rasgar o papel com a caneta, ainda que numa tela digital, eu possivelmente rasgaria o meu corpo. E, em algum momento, o rasgaria demais. (Eliane Brum)
A saída da adolescência, a descoberta do sexo
casual e do amor sem preconceito marca a 2ª fase do Mais Íntimo que ocorre
entre 2014 e 2015. Nessa fase as experiências ganham cenário, as possibilidades
e a permissividade são colocadas em evidência. Permito-me experimentar novas
situações, saindo da minha zona de conforto, através dessas experiências é
possível conhecer novos universos que me inspiram a escrever sobre esses
conhecimentos adquiridos.
A 3ª fase surge timidamente após as experiências
e cicatrizes adquiridas com as duas fases anteriores. No entanto, apesar da
timidez essa fase é mais lúcida e poderosa, porque eu me coloco como personagem
principal da peça-teatral que eu mesma estou escrevendo. Abandono, parcialmente,
o cenário romântico, (amor idealizado, príncipe encantado, cavalo branco), e
adentro um espaço que é meu, minhas raízes. Eu me coloco em primeiro lugar e me
transformo em protagonista. Nessa fase não existe amor platônico ou super
valorização de homem nenhum, pelo contrário, essa fase é definida e justificada
pela palavra PODER, eu, MULHER, NEGRA, FEMINISTA, GORDA, posso tudo, sou livre
e dona de mim.
Nessa fase, o “eu” se torna a matéria
indispensável para a construção de um diálogo aberto e sincero. Temáticas LGBT,
afro-brasileira e discussão gênero serão colocadas em ênfase, pois, assumo a
responsabilidade de dialogar abertamente com os meus leitores sobre assuntos
que precisam ser refletidos. Utilizo o meu empoderamento como mecanismo de
empoderamento de outras mulheres que assim como eu sofrem diariamente nessa
sociedade patriarcal, sexista e machista na qual estamos inseridas.
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